A agricultura portuguesa e europeia e os novos desafios
1. Assegurar que os europeus têm acesso a alimentos saudáveis, economicamente acessíveis e sustentáveis
A saúde humana começa na saúde do solo agrícola. E a saúde deste depende, principalmente, de duas coisas – da sua grande biodiversidade (muitos macro e microrganismos num ecossistema complexo, mas frágil) e do seu teor em matéria orgânica estável ou húmus. E essa complexa biodiversidade é muito afetada, principalmente, por falta de matéria orgânica, excesso de mobilizações, e presença de pesticidas (incluindo herbicidas) no solo.
Importa, por isso, dar maior prioridade a práticas agrícolas que permitam fertilizar o solo com carbono e reduzir a aplicação de pesticidas de síntese química. No caso português, a proteção integrada das culturas, prevista na Lei nº 26/2013, tem de ser aplicada em toda a agricultura nacional, usando os pesticidas agrícolas como complemento e não como o principal meio de proteção fitossanitária.
Por exemplo, na produção de maçã pode evitar-se a aplicação de fungicidas, desde que se cultivem variedades resistentes à sua principal doença, o pedrado, pois já existem muitas e boas variedades com essa característica (fig. 1).
Fig. 1. Maçã da variedade Gaia, uma das novas variedades resistentes ao pedrado e que dispensa todos os fungicidas anti pedrado. Pomar biológico da Agro-sanus, Ferreira do Zêzere, 2019.
2. Combater as alterações climáticas
Dada a emergência climática atual, a agricultura tem de ser parte da solução e não do problema. Para além da redução dos gases com efeitos de estufa, é preciso aumentar o sequestro de carbono, pois a agricultura tem a fábrica que permite fixar o CO2 da atmosfera e convertê-lo em carbono orgânico. A fábrica é a planta e o processo é a fotossíntese!
O aumento de 1% (um ponto percentual) de matéria orgânica no solo corresponde a cerca de 30 toneladas de carbono orgânico por cada hectare, o que para uma SAU nacional já superior a 3.600.000 ha, corresponde a mais de 100 milhões de toneladas de carbono retirado da atmosfera (CO2) e colocado no solo.
Por outro lado, se ao contrário de aumentar a matéria orgânica do solo ela for reduzida, então, em vez de sequestro, temos emissões.
Uma das formas mais ecológicas de produzir matéria orgânica é fazer cultura para revestimento do solo, em particular nas culturas permanentes como a vinha (fig. 2).
Figura 2. Adubação verde na vinha, com enrelvamento biodiverso (1º plano) e mistura de plantas melíferas (2º plano), para fixar carbono e azoto na parcela, aumentar as populações de insetos auxiliares no combate às pragas da vinha, e de abelhas para a produção de mel. Herdade do Esporão, Reguengos de Monsaraz, 2018.
3. Proteger o ambiente e preservar a biodiversidade
O primeiro ambiente a proteger com a sua múltipla biodiversidade é o ecossistema solo. Para além dos aspetos já referidos, para aumentar a matéria orgânica, há que evitar a erosão e a contaminação química provocada por adubos e pesticidas.
O segundo ambiente a proteger é o aquático. Ao nível dos aquíferos, que são as reservas de água mais estáveis e as de último recurso, é inaceitável que Portugal tenha, há mais de 20 anos, 9 zonas vulneráveis de nitratos, com a água imprópria para consumo.
Outro aspeto da biodiversidade muito afetada pelas más práticas agrícola é a dos insetos e outros organismos auxiliares na limitação natural das pragas e na polinização das culturas. Estes organismos são afetados principalmente pelos pesticidas não seletivos, que começaram a ser retirados de toda a agricultura europeia.
Outra biodiversidade a preservar é a genética, no que diz respeito às variedades tradicionais (caso do trigo Barbela, um trigo de palha alta que dispensa herbicidas, e com baixo teor de glúten), ou às raças autóctones.
4. Assegurar um retorno económico justo na cadeia alimentar
O aumento de modos de produção que apostem na qualidade, como as denominações de origem protegidas (DOP, IGP e ETG) e a agricultura biológica, é também uma forma de valorizar a produção agrícola no produtor.
5. Aumentar a agricultura biológica
Objetivos quantificados da estratégia europeia:
- Reduzir em 50% o uso e o risco de pesticidas químicos (de síntese) até 2030;
- Reduzir em 50% o uso dos pesticidas mais tóxicos até 2030;
- Reduzir a lixiviação (perdas) dos nutrientes dos adubos em pelo menos 50%, assegurando também a manutenção da fertilidade do solo;
- Reduzir o uso de adubos químicos em pelo menos 20% até 2030;
- Reduzir as vendas de antibióticos para a produção animal e para a produção aquícola;
- Aumentar a área de agricultura biológica para 25% de toda a área agrícola da UE.
Fonte: https://www.agriterra.pt/Artigos/324471-A-agricultura-portuguesa-e-europeia-e-os-novos-desafios.html